Tem dias que é preciso vestir a roupa de adulto e atravessar a rua segurando bem forte a mão da vida. Não dá para se esconder ou fugir. Defino assim: crianças fogem, adultos encaram. Criança foge do escuro e acende a luz. Foge do medo e pula no colo da mãe. Foge do castigo e mostra a língua para o irmão, implicando. Adulto tem que encarar, a gente aprende desde cedo que fugir é feio, ruim. Fugir é infantil. Por isso, todo adulto é forçado a aguentar, dormir, acordar e continuar.
Acho que todo mundo precisa de esconderijo. Não fujo, mas vez em quando me escondo porque preciso da minha paz, preciso ler minhas frases silenciosas. Palavra pra mim é a coisa mais séria e bonita que existe. Preciso delas ao meu lado, sublinhadas. Tenho esse lado infantil de correr para o colo da mãe, acender a luz do corredor e não caminhar no escuro. Gosto da luz, do mundo claro. Em compensação, amo noites e estrelas.
Esqueci de crescer em um aspecto: sou muito boa para quem eu gosto. Para esses, o mundo. Amo abraços, dar presentes, fazer agrados, segurar a mão, o coração, segurar a barra. Quando eu gosto me entrego demais. Quem eu levo comigo, entenda, levo no peito, num duplex com vista para o mar. Mas nem todo mundo é santo, muito menos eu. Sei ser suja e má: por favor, não pague para ver. O preço é alto, eu faço birra, bato o pé, fico de bico. Fica escrito na minha cara: eu gosto/não gosto de você – não sei disfarçar.
Sou franca e falo o que penso, deve ser por isso que vivo com os joelhos roxos. A gente cai muito quando tem correndo nas veias a sinceridade. Nem sempre sei a hora de falar as coisas, em contrapartida nem sempre eu falo tudo. Será que você entende? Tenho medo de ferir com as palavras. Na verdade, morro de medo disso. Então, eu fico escondendo de você que às vezes faz um frio danado aqui dentro.
Clarissa Corrêa
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