26 de abr. de 2011

Das Constatações


"Eu não sou tão forte quanto eu previa, nem tão fraca quanto eu temia. Não tenho o passo rápido como eu gostaria, nem paraliso como poderia. Aprendi a me equilibrar nos extremos. Se não tenho o direito de escolher todos os acontecimentos, me posiciono de acordo com os fatos. No final, o que me move não é forte o suficiente pra me derrubar, mas é intenso o bastante pra me fazer ir além."


Fernanda Gaona

20 de abr. de 2011

Na sua estante

Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar
Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Cê acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam
E essa abstinência uma hora vai passar...

19 de abr. de 2011

Entre cacos




É. Então é assim. Ontem você quebrou o caule das flores, hoje um copo, amanhã será um vaso vermelho. E você não conserta as coisas. Nunca. Passado um tempo, você as empilha sobre a mesa e finge que estão como sempre estiveram. Como sempre deveriam estar.

Na mesa (quebrada) as flores (partidas) apodrecem no vaso (trincado). E você sorri, me abraçando como se tudo estivesse bem. Como se ruínas fossem belezas ainda frescas. Não são.

Eu vejo os vincos. Eu me corto nos cacos. Eu sei dos armários abarrotados de louça partida. Dos baús repletos de roupas rasgadas. Fiapos de cortina não cobrem o sol, meu amor.

É. Então é bem assim. Um dia você vai perceber que a única coisa inteira na casa toda é o espelho. Mas, se o espelho está inteiro, minha querida, então somos nós que estamos partidos.

V. Linné

Esforço

“Estou farto e cansado! Faço sempre o melhor que posso. Faço o que tenho a fazer. Não interessa se me faz chorar e me magoa cá dentro. Ninguém sabe como me sinto. Ninguém vê o esforço. Esforço-me até ficar a suar, a chorar, a tremer. Sinto uma fúria e um ódio tão grandes que deixo de ver. Começa tudo a andar à volta. Agarro-me à corda que me puxará para a salvação, mas cada centímetro que trepo, alguém baixa mais a corda, rindo-se das minhas lágrimas, do meu suor, do meu sangue. Mete-me nojo. Não vale a pena o esforço. "

Nick Traina
(Danielle Steel em "O meu filho Nick")

17 de abr. de 2011

Acasos Afortunados

Hoje procurando por conforto na web... Algo que me distraísse mesmo entrei mais uma vez no blog da Elenita, e... Gostei muito desse texto


O que acontece quando você pega alguém a quem você quer muito bem na mais (im) perfeita mentira?
Parece que se quebram em torno dela meia centena de espelhos…
Reflexão mais brega, eu sei. Mas é que desapontamento é uma coisa, tão ruim e ao mesmo tempo tão libertadora, que não consigo pensar em qualquer outra imagem que não seja a da sua expectativa em pedaços… enfim. Acho que muitas vezes só o que é necessário é transparência. Trans-aparência sabe? Transparência que vem pelo jeito de olhar nos olhos, mas que vem acompanhada de um modo de agir e se expressar em atitudes, que atravessem a aparência. Isso é difícil, é?
Não que a outra pessoa tenha obrigação de fazer qualquer coisa, mas honestidade é o mínimo!
Lá venho eu com as minhas filosofias de novo. Mas, no fundo, o problema maior deve ser bem nosso mesmo que esperou mais de alguém do que a integridade desse alguém poderia oferecer. Somos todos imperfeitos, não? Mas é que eu acho que a gente espera do outro algumas coisas que oferece na gente. (Soa meio como burrice, i know…) Meu jeito brusco e direto de ser já me rendeu inúmeros desafetos, mas eu ainda não aprendi a ser polida ou falsamente diplomática. Pra mim, sinceridade é uma virtude, e formalidades podem ir todas para a puta que o pariu. Isso quer dizer que se eu quiser outra coisa, se pensar outra coisa, se preferir outra coisa, você vai saber. Se te desaprovar, você vai saber. Talvez isso seja até falta de inteligência. E, em larga medida, é. Mas prefiro ser considerada rude a passar por leviana, mentirosa ou duas-caras.
What you see is what you get. O que vc enxerga é o que eu sou. Acho que é esse comportamento que define uma das características de mais caráter nessa vida pra mim.
Me engane uma vez, vergonha pra você. Me engane duas vezes, vergonha pra mim. Hoje, a vergonha é pra mim. Mas cada um é o que é e como é. E de idiota nessa vida só continuam nos fazendo se a gente permitir.
Bye, bye, adios, au revoir, so long, hasta la vista, baby. From now on, a sua mentira é um problema totalmente seu.

*Elenita Rodrigues

15 de abr. de 2011

Estrela-do-mar


Era uma vez um escritor que morava em uma tranqüila praia, junto de uma colônia de pescadores. Todas as manhãs ele caminhava à beira do mar para se inspirar, e à tarde ficava em casa escrevendo. Certo dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que parecia dançar. Ao chegar perto, ele reparou que se tratava de um jovem que recolhia estrelas-do-mar da areia para, uma por uma, jogá-las novamente de volta ao oceano.

“Por que está fazendo isso?"- perguntou o escritor.

"Você não vê! --explicou o jovem-- A maré está baixa e o sol está brilhando.
Elas irão secar e morrer se ficarem aqui na areia".

O escritor espantou-se.
 “Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora, e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela praia. Que diferença faz? Você joga umas poucas de volta ao oceano. A maioria vai perecer de qualquer forma".

O jovem pegou mais uma estrela na praia, jogou de volta ao oceano, olhou para o escritor e disse:
 “Para essa aqui eu fiz a diferença” 

Naquela noite o escritor não conseguiu escrever, sequer dormir. Pela manhã, voltou à praia, procurou o jovem, uniu-se a ele e, juntos, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano.

Sejamos, portanto, mais um dos que querem fazer do mundo um lugar melhor.
Sejamos a diferença!

12 de abr. de 2011

Sobre o amor e libélulas:


Um dia desses estava escorado na janela de um hotel qualquer quando uma libélula pousou a poucos centímetros do meu braço. Na hora, eu não sabia ao certo se aquilo era uma libélula, ou uma cigarra, ou um inseto gigante qualquer. Nunca soube, e os poucos segundos que perdi tentando classificar o bicho foram suficientes para que ele sumisse. Bateu asas e escafedeu-se entre as árvores.

Eu tenho uma ligação especial com libélulas. Foi correndo atrás de uma que eu me estabaquei no chão, fraturando uma costela, perfurando o baço e sofrendo uma hemorragia interna que por pouco não me matou. Tinha cinco anos e, desde então, convivo com uma cicatriz que me atravessa o abdômen, lado a lado. Tudo que eu queria era vê-la de perto, justamente para me certificar se o bicho em questão era cigarra, libélula ou "seja-lá-o-que-fosse".

Se a necessidade de classificar uma libélula me rendeu duas semanas de internação, imagino o que me aconteceria se eu ficasse tentando classificar meus sentimentos, inclusive me cansa ver por todo lado gente tentando diferenciar um sentimento do outro. Se é amor, amizade, namoro,rolo,beijo,ficada,passatempo... Não tenho a mínima idéia e nem quero ter! São inúmeras as espécies de relacionamentos e a tentativa de classificar a todo minuto algo que, ás vezes, é simplesmente inclassificável pode resultar em muito mais que um baço perfurado.

Ás vezes, perdemos a noção de que cada minuto da nossa vida pode ser o derradeiro,de cada ligação telefônica pode ser a ultima,bem como aquela pessoa, de quem você ainda não sabe se gosta, pode ser o seu ultimo romance.

Lulu santos pediu, a gente obedece:
“Hoje o tempo voa amor
 E escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo que volte amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir!”

O amor é uma libélula que pousa na nossa janela pouquíssimas vezes. Corra atrás da sua libélula, sem medo de se machucar. Viva o seu romance. Viva o seu ultimo romance.

Lucas Silveira

9 de abr. de 2011

Ingratidão

Recebi de uma amiga por e-mail.




Que queres ainda?
Levaste-me ao Sinédrio,ao Pretório;
me obrigaste a caminhar sob o teu açoite a dura jornada até o calvário e me crucificaste.
Deste-me uma coroa de espinhos, molhaste meu lábio com vinagre e fel.
Pelas ruas de Jerusalém a multidão ensandecida mais e mais ovacionou teus atos, tua insensatez.
E eu te amei!
Molhei meus dedos na fonte e lavei tua fronte!
Limpei teus olhos, derramei carinho no teu coração árido.
Beijei teus pés;
Acolhi teu ser no meu ser e tu, inconsciente, sequer me permitiste a oração no Monte das Oliveiras!
Repentinamente jogaste meu espírito à sanha dos cães e o meu nome na boca de leões esfaimados.
Em agonia gritei teu nome...
Quis te acordar mas em tua cegueira coisa alguma quiseste ouvir.
Os meus gritos doloridos não percebeste.
Nada te comoveu, então gritei por Deus e supliquei piedade para mim, para ti, para todos nós que não somos luz para todos nós, sem exceção, pois que não sou JESUS.

8 de abr. de 2011

...e por que?


Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Parece que o mundo é movido a dinheiro. O problema não é querer ter uma vida boa e confortável, o problema é o que as pessoas estão dispostas a fazer (e do que estão dispostas a abrir mão) para conseguir cada vez mais dinheiro. E com o objetivo de quê?
Isso me entristece. É egoísmo atrás de egoísmo, ingratidão, mesquinharias... Me entristece um montão.
Aí você olha pra atitude deplorável do outro e começa a se analisar pra ver se, aqui e ali, mantém sua atitude correta, sua calma, sua serenidade também. (Apesar de ter vontade de comprar brigas alheias e se indignar com meio mundo. Em gritos.)

Cada pessoa nesse planeta é responsável pela sua própria escolha. Talvez ainda não as crianças que aprendem entre o que é certo ou errado nos primeiros anos da vida. Mas os adultos? É deles a escolha. É minha, é sua, é nossa a escolha. Só nossa.
O que é mais importante pra você? Fraternidade, amor, família, honestidade, alegria? Ou mesquinharia, egoísmo, avareza, desconfiança, veneno?

A resposta, eu acredito, não poderia ser mais óbvia. Você atrai o que você transmite. O que você oferece ao mundo é o que ele devolve a você.
Não vai muito além disso.

Elenita Rodrigues

4 de abr. de 2011

Encantamento existe?




Quando eu era pequena minha mãe me contava uma história, a história de uma plebéia, que sonhava em encontrar o príncipe encantado e então poder virar uma princesa, ela sonhava com o dia em que o príncipe chegaria no cavalo branco e a pediria em casamento do jeito mais belo que poderia existir, ela idealizava a vida perfeita, o namoro perfeito, o casamento perfeito, o cara perfeito.
 Todos os dias ela ia para a praça mais famosa da cidade esperar pelo dia em que o príncipe apareceria, todo os dias, durante muitos anos, ela não se cansava, acreditava realmente que esse dia chegaria, até que durante o tempo que ela passava na praça fez amizade com um plebeu que também estava ali pelo mesmo motivo, a procura da princesa, uma mulher perfeita, que nunca o magoaria e que retribuiria seu amor na mesma intensidade. Eles tornaram-se grandes amigos, ele a cativava imensamente, e ela era a pessoa mais encantadora que ele conhecera, eles continuavam em busca do príncipe e da princesa tão idealizados, e a amizade entre eles aumentava cada dia mais.
 Um dia ele cansou de esperar, decidiu parar de procurar uma amante perfeita, cansara de procurar o amor, ela então o incentivava, ela realmente acreditava que cada um tinha o par perfeito, a outra metade da laranja, mas nada o convencia então ele foi embora.
 Ela continuou indo a praça, mas nada estava igual, faltava algo lá, algo que ela não sabia o que era, mas faltava algo, um dia uma fada surgiu para ela e disse: Minha cara, seu príncipe encantado sempre esteve ao seu lado, mas ele estava coberto por um encanto, o encanto da amizade. Ela ciente do grande erro que havia cometido, foi atrás do grande amigo que havia feito na praça e que era o verdadeiro príncipe que ela procurava, mas ela nunca o encontrou.
 Alguns dizem que ele também a amava, mas foi embora pelo fato dela nunca ter correspondido, outros dizem que eles eram apenas bons amigos, e nada mais, a minha mãe preferia dizer que eles eram bons amantes, não namorados, mas amigos, bons e grandes amigos, que se amavam mas estavam cegos pela procura do perfeito.

Mayara Domingos.


3 de abr. de 2011

Bonitinho...

[Recebi por e-mail de uma amiga]



1. Deixe fora os números que não são essenciais. Isso inclui a idade, o peso e a altura. Deixe que os médicos se preocupem com isso. Afinal, é para isso que lhes paga!





2. Mantenha só os amigos divertidos. Os depressivos puxam para baixo. (Lembre-se disso se for um desses depressivos!)



3. Aprenda sempre. Aprenda mais sobre computadores, artes, jardinagem, o que quer que seja... Não deixe que o cérebro se torne preguiçoso. 'Uma mente preguiçosa é trabalho do diabo.' E o nome do diabo é Alzheimer!




4. Aprecie as pequenas coisas.






5. Ria muitas vezes, durante muito tempo e alto. Ria até lhe faltar o ar. E se tiver um amigo que o faça rir, passe muito e muito tempo com ele/ela!




6. Quando as lágrimas aparecerem, agüente, sofra e ultrapasse. A única pessoa que fica conosco toda a nossa vida somos nós mesmos. VIVA enquanto estiver vivo.






7. Rodeie-se das coisas que ama, quer seja a família, animais, plantas, hobbies, o que quer que seja. O seu lar é o seu refúgio.




8. Tome cuidado com a sua saúde. Se é boa, mantenha-a. Se é instável, melhore-a. Se não a consegue melhorar, procure ajuda.








9. Não faça viagens de culpa. Faça uma viagem ao centro comercial, a um país diferente, mas NÃO para onde estiver a culpa.


10. Diga às pessoas que ama que, as ama a cada oportunidade.





Deitar na grama numa noite fresca olhando
a misteriosa e inspiradora imensidão que é o céu.

Ah, vivi! Té que enfim...
A vida tava ali e eu não sabia!


Elias Nasser

2 de abr. de 2011

Não confunda!


Existem duas pessoas em mim. O que eu faço e o que eu sou. São pessoas diferentes que, aos olhos de muitos, são absolutamente iguais. No entanto, tamanha semelhança não justifica tanta confusão. Caixas cheias, contendo toneladas de decepções são empilhadas a cada vez que o que eu faço entra em conflito com o que eu sou. E não há como juntar as pessoas em uma. São almas feitas para serem somadas, não subtraídas. Se houvesse algum jeito de fazê-lo, os verbos SER e FAZER seriam um só, com o mesmo significado. Portanto, não confunda. Não confunda.


Lucas Silveira

Pois é...



"Não penso morrer mais, que porra, que morram os outros!" 


Gabriel Garcia Márquez







Vazio interior


Existe uma coisa a que se chama 'o vazio fértil'. Muitas pessoas não valorizam na medida certa seus momentos de vida. Há ocasiões onde se sente um certo desequilíbrio e perde-se um pouco a dosagem dos sentimentos. Mas há pessoas que ou super-valorizam a dor, ou a subestimam. Na tentativa de fugir da dor, não se dá a devida atenção, como muito bem lembrado por Palomba em uma entrevista que vi; as frustrações são necessárias, elas fazem parte do processo, são elas que ajudam a gente ver que o caminho não é o que imaginávamos seria o certo e nos mostram que nem tudo está sob nosso controle ou de quem quer que seja.
Sofrer lembra tanto quanto sorrir que estamos vivos e que, no paradoxo essencial da vida, somos tão responsáveis por ela quanto não, quanto estamos sob assistência do Divino, mesmo que não entendamos nitidamente isso. (...) A primeira busca é a interna. As outras são sempre reflexo desta." 


(Paula Calixto)

Depilação




"Tenta sim. Vai ficar lindo."

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve.

Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?

Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

- Cavada mesmo.

- Amanhã, às... Deixa eu ver...13h?

- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?

- .é... é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

- Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei.

De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.

- Assim?

- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.

- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar.

Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.

Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.

O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?

- Não, eu quero só virilha, bigode não.

- Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.

Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

- Olha, tá ficando linda essa depilação.... Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.

Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?

- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada. Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?

- Hein?

- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?

- Hein?

- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.

Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?

- Sim... sonhei de novo com o c* de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil daqueles por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?

Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.

- Vira agora do outro lado.

Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.

- Máquina de quê?!

- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.

- Dói?

- Dói nada.

- Tá, passa essa merda...

- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao c*. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.

- Prontinha. Posso passar um talco?

- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

- Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.



PORTANTO AMIGOS, QUANDO SUA NAMORADA/ESPOSA DEPILAR, DÊ VALOR, TA!
*Recebi essa crônica por e-mail. Desconheço a autoria, mas assinei embaixo! risos...